
Seis meses depois da estreia, a Band e Otaviano Costa decidiram encerrar a parceria em torno do "Melhor da Noite". A saída, confirmada pela emissora em nota, ocorre após um período curto, marcado por discussões internas sobre rumos do programa, baixa audiência e uma rotina pesada de deslocamentos entre Rio e São Paulo. Pelo combinado, a despedida seria no fim de outubro, mas o apresentador pediu para sair já no fim de setembro.
Otaviano assumiu a faixa noturna da Band em março de 2025, com um formato de revista eletrônica três vezes por semana, às 22h30. A direção apresentou um projeto alternativo para o ano seguinte. Ele não concordou. Pesou também a vida pessoal: ele mora no Rio com a família e fazia a ponte aérea para gravar em São Paulo. Esse ritmo cobra um preço, sobretudo após o susto de saúde que teve em 2024, quando passou por uma cirurgia no coração e, mais recentemente, precisou se afastar novamente para tratar novas intercorrências.
Nos bastidores, o clima não era dos melhores. Pessoas próximas dizem que o apresentador se sentiu pouco ouvido. Ele chegou a oferecer a estrutura da sua própria empresa para trabalhar junto às áreas comercial e de marketing da Band na busca por patrocinadores e impulsionar o programa nas redes. A iniciativa não virou resultados relevantes e aumentou o desgaste.
Oficialmente, a emissora fala em decisão por comum acordo. O plano inicial previa a permanência até 31 de outubro, mas Otaviano pediu para antecipar a saída para o fim de setembro, o que deve abreviar também gravações e ajustes na grade. Ele não anunciou próximos passos e, por ora, a prioridade é reorganizar agenda, saúde e família.
O "Melhor da Noite" misturava gastronomia, viagem, notícias e histórias inspiradoras. Uma proposta leve, com variedade e entrevistas, pensada para competir num horário duro. Às 22h30, o programa encarava novelas, realities e futebol em outras redes. Em setembro, segundo dados da Kantar Ibope Media para a Grande São Paulo, a atração chegou a registrar índices muito baixos, próximos de zero ponto — o famoso "traço". Para anunciantes, isso pesa. Sem escala de audiência e sem buzz digital consistente, a monetização fica travada.
Na prática, a Band vinha testando caminhos para reaquecer a faixa noturna. A presença de um apresentador popular era uma aposta para dar cara e ritmo ao horário. A engrenagem, porém, não girou. Houve tentativas de ampliar a participação do programa nas redes e de costurar ações comerciais, mas os indicadores não reagiram como se esperava.
Para o lugar de Otaviano, o nome mais forte hoje é Pâmela Lucciola, do "Melhor da Tarde". Se confirmada, a troca pode trazer ajustes de linguagem e quadros. A emissora estuda cenários para não perder o espaço que já conquistou com o público cativo do fim de noite. Entre as opções sobre a mesa estão manter um formato de revista, encurtar a duração ou fundir quadros com outras produções, sempre com olho na entrega de audiência para o telejornal e para a programação seguinte.
O movimento também reflete um problema maior: estabilizar o prime time. A Band costuma performar melhor em jornalismo e esportes, além de realities culinários, que têm ciclo próprio. A faixa de entretenimento noturno é mais volátil e sofre impacto direto da concorrência e do calendário esportivo. Sem uma âncora forte, qualquer deslize fica visível nos números.
Mesmo com o revés, o projeto deu pistas do que a audiência noturna busca hoje: formatos mais curtos, alto apelo de redes sociais e parcerias comerciais nativas, que integrem conteúdo e marca sem quebrar o ritmo. A tentativa de usar a estrutura externa de Otaviano para acelerar essas frentes mostra que a TV aberta está, sim, aberta a modelos híbridos. O problema é que esse arranjo exige tempo de maturação — e tempo é luxo quando a régua do Ibope não sobe.
Para o apresentador, a mudança encerra um ciclo rápido. Ele já foi um rosto conhecido do entretenimento na TV aberta, com passagens por grandes redes e projetos de variedades, e sempre transitou bem entre humor, entrevista e improviso. O retorno ao horário nobre era uma aposta para reposicionar a imagem. Saindo agora, ele preserva capital pessoal e mantém margem para escolher o próximo passo com menos pressão de resultado imediato.
No mercado, a saída alimenta uma discussão que não é nova: como segurar o público da TV aberta no fim de noite, em plena era do streaming e das redes? A fragmentação mudou hábitos e encurtou a paciência do espectador. Programas de revista ainda funcionam, mas precisam ter diferencial claro, quadros com entrega rápida e presença digital que leve tráfego real de volta para a TV. Sem isso, a disputa com novelas, realities e lives fica desigual.
Enquanto a Band decide o novo desenho do horário, o "Melhor da Noite" deve passar por ajustes internos e uma transição curta. A tendência é que a emissora comunique a grade revisada nas próximas semanas, com a nova configuração do fim de noite e eventuais remanejamentos no período da tarde para dar sustentação. O desafio é o de sempre: entregar um produto que segure a audiência e, de quebra, agrade o mercado publicitário.
Sou uma jornalista especializada em notícias com uma paixão por escrever sobre tópicos relacionados às notícias diárias do Brasil. Gosto de manter o público bem informado sobre os acontecimentos atuais. Tenho anos de experiência em redação e reportagem.
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